Quando adquiri consciência, muito tempo depois de ter nascido, e já em movimento por um tempo razoável, eu repentinamente me dei conta que eu estava caminhando ao longo de uma enorme praia de areia que se esticava além do horizonte. Eu vim numa caminhada beirando o mar. Pés na areia, passos incessantes. Nessa praia de areia sem muitas variações, eu vi a oportunidade de ocasionalmente me entreter e construir coisas aleatórias de areia; às vezes um castelo, às vezes um buraco, às vezes algo que eu nem sabia que poderia existir. Mas sempre algo diferente da areia encontrada pelo caminho. A areia abundante foi servindo de matéria prima para minha imaginação e oportunidades. Ao longo do extenso caminho eu fui construindo e deixando os pequenos montes, os castelos e as esculturas que aos poucos fizeram da minha praia plana algo interessante e variado. Eu poderia ter passado batido, deixado a areia como estava. Teria sido mais conveniente, poderia ter me entregue à preguiça e simplesmente continuado caminhando sem fazer nada mais além de andar em direção ao horizonte desconhecido. Mas senti que a areia estava ali para ser moldada e transformada de acordo com minha imaginação e disposição. Às vezes me enxerguei como areia eu mesmo.
Caminhei por muito tempo, fui bem longe na minha extensa jornada beirando o mar ao longo da praia, me entretendo com todas as formas que produzi com areia proporcionada no meu caminho e que em dados momento eu escolhi interagir com ela. Muitos montes foram feitos, castelos levantados, às vezes desmanchados, mas sempre transformados. Alguns foram marcantes. Alguns trouxeram o prazer da simplicidade. Outros, mais complexos, me proporcionaram a satisfação de superar os desafios de trazer da imaginação para o mundo concreto. Outros não deram certo, por mais que eu tentasse. E me conformei, diante de tantos outros que se realizaram.
Então, quando um dia eu resolvi parar e olhar para trás e contemplar o caminho que percorri, pensando em um dia voltar e coletar todas as marcas que eu fui deixando para trás na imensa praia que eu percorri, eu vi que o mar, como o tempo, veio e varreu para dentro de si todas minhas esculturas, meus castelos, meus montes. Desapareceram todos, levados pela fome das ondas e do tempo.
A essa altura, cansado, eu resolvi que havia concluído minha caminhada. Porém não havia nada em vista para o qual voltar. Só existiam agora na minha memória. Para mim então não restava nada a fazer, a não ser me lançar ao mar, e me unir aos meus grãos de areia.
(Alessandro Casella, 2023)
Meus Grãos de Areia
Como os grãos de areia que vem escorrendo através do tempo na ampulieta da minha vida, compartilho aqui realizações e feitos, os grãos que me distraem, que contam meu tempo e a minha vida, enquanto passo por esse mundo.
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O QUE ESTOU FAZENDO AQUI?
Eu já fui terra, areia, vento, fogo de fogueira, suco de manga, saliva de peixe e semente de mamão, dentre milhares de milhões de outras coisas. Para ser mais claro, vou definir o que seria esse “Eu”: Todas as menores peças que hoje compõem o meu corpo, as minúsculas partes, já foram um tanto de coisas. Átomos emprestados, desmontados e remontados como peças de Lego reutilizadas infinitamente pela natureza. A parte física, material, o “Eu” físico que hoje é o corpo onde estou, é isso: “Peças de Lego montadas”, temporariamente alocadas ao meu corpo. Vieram constituir o meu corpo através do alimento que eu ingeri e do ar que respirei.
Porém, essencialmente, EU sou a consciência que observa e percebe o mundo através de todas as percepções e sentidos desse corpo que interage com esse mundo. EU, essa consciência, habita esse corpo que me transporta e me sintoniza nessa realidade, nesse planeta.
É possível que essa consciência que eu acho que sou, deve já ter sido infinitamente somada e misturada com tantas outras, como gotas de água que voltam a se juntar e formam um oceano. Esse meu momento, de união da consciência que sou mais o corpo no qual eu me manifesto, algo como uma fração de energia tirada de uma fonte maior para conduzir esse meu corpo, é a oportunidade que o infinito tem de ser um ponto de vista de si mesmo.
Assim como tudo que é vivo, sou uma fração ínfima do próprio infinito se enxergando. É muito provável que do jeito que essa combinação existe agora, combinação de corpo e energia, nunca foi antes e nunca vai ser após esse corpo se desfazer. Sendo assim, a única certeza, mesmo sendo ilusão, é que aqui estou. E estando, eu busco o que posso experimentar, criando, realizando e sorvendo tantas possibilidades de aqui estar, e aqui temporariamente ser.
(Alessandro Casella, 2023-04-02)