Relato por Eduardo Lima:
No dia 25 de dezembro de 2008, deixamos toda a família e o banquete do natal para uma aventura considerada por muitos uma loucura: Chegar ao cume da montanha mais alta das Américas, o Aconcágua na Argentina, com 6.962 metros de altitude.
A equipe foi formada por seis pessoas, eu (Eduardo Lima), Decio Ribeiro, Paulo Mazoco, Alessandro Casella, Juarez Rech e Adriano Buragas.
O começo foi como planejado pelo líder do grupo Paulo que já havia estado no cume antes por duas vezes.
Chegamos ao primeiro acampamento, Confluência, com 3.400 metros de altitude e la seguimos nossa programação de aclimatação a altitude. Subimos ate Plaza Francia a 4.250 metros e voltamos para dormir no 1º acampamento. Lá já começamos a sentir os primeiros efeitos da altitude, dor de cabeça, fadiga em fazer qualquer esforço e ate enjôo.
Depois de 2 dias seguimos para Plaza de mulas com 4.300m de altitude onde ficamos 2 dias fazendo alguns trekkings a lugares mais altos como Bonete com 5.050 metros e voltando para dormir na base para aclimatar.
Depois do grupo estar pronto para seguir subimos para para Nido de Condores, com 5.600 metros de altitude para armar acampamento, fomos mais ou menos com 15 kg na mochila cada um, mais 2,5kg de bota (cada pé). Depois de 6h e30m de trekking armamos acampamento debaixo de uma grande nevasca e temperatura de 6º negativos, voltamos a Plaza de mulas, o acampamento base do Aconcágua, para descansarmos mais um dia, aclimatar, e depois voltar a Nido no 9º dia de montanha com o resto das bagagens. Dessa vez para ficar. O plano era chegar descansar e seguir um dia depois para o acampamento de Cólera a quase 6.000 metros, porém o mal tempo com nevasca, frio e vento de 80km/h nos fizeram ficar por três dias dentro da barraca. Aí as dificuldades realmente começaram: Para cozinhar e beber água tínhamos que descongelar neve e tínhamos que beber de 5 a 6 litros de água por dia para amenizar os efeitos da altitude e também por que a perda de líquido é muito grande, só na respiração perdemos cerca de 2 litros por dia.
Dores de cabeça muito forte começaram a fazer parte do meu dia-a-dia. Por causa do frio a noite fora da barraca, o que inviabilizava nossa saída, usávamos garrafas de plástico para fazer xixi e para fazer o “número dois” usávamos sacos plásticos, dentro da barraca mesmo por causa do tempo horrível lá fora. Os sacos foram levados ate o acampamento base e deixado em um lugar apropriado, de acordo com as regras do Parque Aconcágua.
Durante os dias de nevascas ficamos com rádio ouvindo as conversar dos guardas-parque. A montanha estava um caos por causa da nevasca: Helicópteros, guardas-parque e muitos voluntários realizando resgates.
Em nossos 16 dias de montanha houveram cinco mortes e uma pessoa teve os dois pés amputados.
Quando a nevasca acabou saímos para o próximo objetivo o acampamento de cólera com quase 6.000 metros, porém no meio do caminho outra nevasca nos pegou e por motivos de segurança tivemos que armar acampamento um pouco antes de onde tínhamos planejado, ficamos em Berlin a 5.930 metros. Apesar de roupas, botas e luvas apropriadas, o Décio já estava com inicio forte de hipotermia e já não sentias seus dedos das mãos e dos pés. Por causa dessa nevasca nesse acampamento também ficamos por três noites. Nesse acampamento tivemos medo da expedição fracassar por causa do forte mal tempo.
O próximo passo já era o ataque ao cume e quando a tempestade acabou, com muita prudência em nosso 14º dia, saímos da barraca em direção ao cume as 04h30min da manhã com temperatura de 35º negativos.
Eu já estava havia dois dias com uma dor de cabeça forte e persisti em direção ao cume assim. Esse dia foi duro! A subida era forte e os efeitos da atmosfera rarefeita foram fortes. Nos últimos 500 metros eu senti um sono muito forte e tive que parar na neve quatro vezes para dormir. Era um sono profundo, porém meus companheiros diziam que não passava de 5 minutos o tempo que eu permanecia dormente. Para mim esses 5 minutos pareciam meia hora de sono profundo.
Depois de 14 horas de uma caminhada muito lenta e exaustiva, com muita dificuldade chegamos ao cume da montanha mais alta das Américas. A vista, a experiência e as amizades valeram cada passo.
A estatística do Aconcágua é que chegam ao cume somente 50% das pessoas, e com nossa equipe não foi diferente, chegaram ao cume somente três de nossa equipe de seis: Décio Ribeiro, Paulo Mazzoco e eu, Eduardo Lima.