
Eurobike_Portugal

Dia 18 – Porto > Esposende, Portugal
Susan, 75, Viajando Solo de Bicicleta
Tchau Porto! Bonita cidade, mas eu só estou de passagem.
Até hoje eu cruzei durante o pedal pouquíssima gente viajando de bicicleta. Teve o casal Francês no camping em Pedrogão, mas não cruzei com eles enquanto estava pedalando. A primeira pessoa que eu cruzei pedalando foi a Susan, austríaca de 75 anos de idade. Estava fazendo sozinha o caminho de Porto até Santiago de Compostela. Eu inclusive achei muito legal que ela estava se virando sozinha. O plano original dela era fazer usando uma bicicleta elétrica, mas por não poder levar baterias de lithium no avião ela optou por fazer com bicicleta mecânica mesmo. Achei incrível que isso não foi um fator limitante para ela. Acabou sendo uma oportuna coincidência a gente se encontrar naquele trecho, pois o percurso passou por extensas passarelas de madeira beirando a areia das praias, e teve um local com várias escadas, onde eu mesmo tive de carregar a minha bike e equipamentos para passar. Eu coincidentemente estava junto dela e pude oferecer ajuda, a qual ela aliviada aceitou. Eu acho que ela ia ter bastante dificuldade pra descer por lá se eu não estivesse presente. Ela certamente iria dar um jeito, mas creio que ela teria que desmontar tudo da bicicleta dela. Descer peça por peça seria uma maneira. Pelo menos é como eu faria. Mas felizmente agilizamos comigo carregando tudo e então me despedi dela e segui no meu ritmo.
Dia 16 – Pedrogão > Figueira da Foz > Coimbra > Porto, Portugal
Após o Expurgo, de Volta ao Tour
Após seis dias parado em Pedrogão, me recuperando de uma intoxicação alimentar, recuperei forças suficiente para continuar viagem. Fui até Figueira da Foz e decidi que de lá eu iria pegar um trem para Coimbra e de lá para Porto. Eu avaliei que o trecho que seria percorrido de bike seria meio entediante, e depois de todos esses dias parados na em Praia do Pedrogão, eu quis mudar logo de cenário.
Dias 11 ao 15 – Permanência em Pedrogão, Portugal
Expurgo
Alguma coisa que eu comi em Nazaré não me fez bem. Tive uma intoxicação alimentar. Na primeira noite em Pedrogão eu tive diarréia e fui correndo pro banheiro do camping várias vezes. Fiquei 5 dias aqui em Pedrogão me recuperando.
“Eu não posso me considerar livre enquanto eu não for capaz de não levar toda a carga da minha mente onde quer que eu vá.”
Alessandro Casella
Dia 8 – Santa Cruz > Peniche > Nazaré, Portugal
Percurso do Dia
Passando por Dunas e Chegando na Praia de Ondas Gigantescas (#SQN)
Hoje o pedal foi longo, quase 90 km. O clima melhorou bastante, a poeira amarelada deu uma dissipada e o céu está mais azul. A caminho de Nazaré hoje eu passei por Peniche, praia conhecida pelo surf e principalmente pelas suas dunas. Na entrada da cidade tem uma placa dizendo “Bem Vindo à Capital da Onda”. Junto com o céu limpo e azul vem o sol que por volta do meio dia força uma parada na sombra. Comi um lanche em Peniche sentado debaixo de uma árvore do lado da ciclovia que atravessa um parque.
Segui pro norte, rumo a Nazaré, conhecida mundialmente pelas ondas gigantes. Eu estava bem animado pra ir ver e conhecer pessoalmente essas ondas tão famosas, que inclusive são surfadas. Alguns trechos ao longo do litoral tem ciclovias, e outros trechos não, então vou pelo acostamento mesmo. Eu tenho tentado seguir o “Caminho Oficial” do EuroVelo 1 – Atlantic Coast Route, que é mais próxima do litoral, e paralelo ao “Caminho Português de Santiago de Compostela”, que segue mais pelo interior. Porém a sinalização para se manter no percurso é muito ruim, não tem uma rota direta, clara, sinalizada. Ou eu não encontrei, ou realmente é toda segmentada e a tala da EuroVelo 1 é uma concepção para o futuro, quando vários trechos serão unificados. Eu vou seguindo colocando no Google Maps para onde quero seguir, e coloco que estou de bicicleta, e o Google Maps vai sugerindo as rotas. No geral funciona, mas tem vezes que me manda por uma quebradas e atalhos por áreas bem isoladas. Hoje mesmo me enviou por estradinhas de terra numa zona rural, e pra voltar para a via principal tive que subir uns trechos íngremes por estradas que dão acesso à plantações de eucalipto. Ou seja, trechos cheios de galhos no chão, nada ideias para se passar com uma bike carregada. Eu valorizo muito as tecnologias de hoje, que me permitem ver no celular uma imagem satélite de onde estou e pode me orientar para chegar onde quero. Apesar de eu não ter comigo um drone, eu vejo que um desses bem pequenos e portáteis seria muito útil numa situação dessas, me permitindo visualizar a minha localização do alto, fazer uma leitura dos arredores, a navegar de acordo. Mas enfim, o legal é que a ideia é essa mesmo, ir passando por lugares diferentes, por caminhos diversos e variados. A diversão é essa. Em nenhum momento eu me considero perdido, pois acredito que eu sempre esteja onde eu “devo” estar. Nem se demorar mais pra chegar onde quero, em algum caso extremo, eu sempre me mantenho abastecido de água e comida. Retornei pro asfalto e segui viagem.
Chegando em Nazaré eu fui para a beira mar, ansioso para ver as ondas gigantescas. As marolas que encontrei não chegavam nem na altura do meu joelho!! Kkkkkkk O mar estava calmo e tranquilo. Quem sabe amanhã. Aproveitei o pôr do sol que desce no Atlântico e depois segui para achar onde pernoitar.
Na calçada movimentada da via beira mar, onde estão as lojas e restaurantes, uma senhora em trajes típicos estava segurando uma placa “Aluga-se Apartamento” e eu perguntei os preços. A Maria Adelaide me respondeu em um sotaque muito forte de Português mesmo. Aí me dei conta que o traje “típico” dela na verdade era a roupa do dia a dia mesmo. Pessoa tradicional. Eu tinha imaginado que ela estava vestida assim para chamar atenção e se promover. E na verdade era apenas uma senhora local, oferecendo seu apartamento para pernoites. Eu a segui até umas vielas a umas duas quadras da beira mar, e ela me apresentou o apartamento de um quarto, no térreo, com porta direto para a viela. Estava ótimo. Combinei com ela que ficaria lá dois pernoites.
Dia 7 – Ericeira > Santa Cruz, Portugal
Percurso do Dia
Céu Laranja Amarelado
Estar em um outro país pela primeira vez é sempre uma experiência inusitada. Não só pela cultura e hábitos locais, mas também pelo clima diferente, pela geografia, cheiros, vegetação, animais, etc. Não bastasse isso, tinha algo a mais, que eu não estava percebendo. O clima tem estado frio, às vezes chuvoso então foi difícil perceber logo de cara, até que eu parei para reparar: O céu tem estado alaranjado. Tudo tem estado meio envolto em uma tonalidade meio amarelada/alaranjada. O céu não esteve, desde ontem, azul límpido, Não esteve cristalino. O céu estava empoeirado de amarelo. E foi então que vendo algumas notícias eu me dei conta que eu estava testemunhando um fenômeno não tão incomum comum por aqui: A poeira fina das areias vindo do deserto do Sahara cobrindo os céus. Os ventos vindo do sul, do norte da África, trazem para o sul Europeu essa poeira fina de areia do Sahara, e isso provoca esse filtro laranja/amarelo em tudo iluminado pela luz do dia. Uma névoa constante de areia muito fina.
No final da tarde eu cheguei em um albergue muito bem estruturado. Um dos “Youth Hostels” de Portugal. Basicamente um predinho de apartamentos – no térreo tem uma área com salão, salas de jogos e refeitório. Como estamos fora de temporada, a ocupação lá era mínima.
A bicicleta pode ser armazenada numa salinha ao lado da recepção, o que me deixa mais tranquilo por ficar menos vulnerável a roubo. Se bem que até agora não tive a sensação de que ser roubado é um risco grande por aqui. Eu admito que venho de uma experiência de no Brasil ficar atento o tempo todo, não importa onde estiver, com algum ladrão oportunista.
Fiquei sozinho em um apartamento com estrutura para 4 pessoas. Tudo muito novo e limpo. Me custou 20 euros, e valeu muito a pena. No apartamento tem uma pequena cozinha onde pude preparar minha janta. Poder dormir numa cama confortável ajuda muito para descansar e recuperar as energias para o dia seguinte.